domingo, 22 de julho de 2012

Interregno…

Este blogue está temporariamente encerrado.
Vai assim estar enquanto durar este meu “retiro” do campo de batalha em que se transformou a Escola.
De momento respondo individualmente (e com as únicas armas que possuo) à guerra que o anterior governo declarou aos professores e que o governo actual generalizou a todos os funcionários públicos.
Depois de ter lutado colectivamente, fazendo greves e participando em todas as manifestações realizadas e ter chegado à conclusão que perdemos, resolvi lutar sozinho -  não me rendendo ao "inimigo".
Quando acabar de lutar, regressarei vitorioso e, então sim, poderei concluir o meu trabalho e atingir os objectivos que defini neste blogue. Finalizando-o. Está para breve!

sábado, 23 de junho de 2012

Portugal 2012

Portugal, país onde nasci em tempos de ditadura, mudou muito nestas últimas décadas. 
Se o 25 de Abril, como referi no último post, nos encheu a todos de esperança em dias melhores, que se cumpriram em parte, nos últimos anos temos assistido a retrocessos vindos de todos os lados.
A nossa dívida externa é hoje assustadora e vai piorar em consequência das megalomanias e dos desvarios dos nossos governantes. A taxa de desemprego é hoje assustadora e vai continuar a piorar ao mesmo ritmo da destruição do emprego neste país. A sensação de insegurança é hoje mais assustadora do que nunca, fruto dos assaltos violentos que assolam Portugal de Norte a Sul. A corrupção, ou o que vamos conhecendo dela, é hoje assustadora e mete coisas estranhas como histórias de off-shores, de malas com dinheiro vivo para pagamentos esquisitos, de pressões para silenciar juízes, de construções desenfreadas em locais protegidos etc. etc.
Entretanto a burocracia cresceu de forma assustadora em todos os sectores. A Justiça e, sobretudo, a imagem que hoje temos dela, é assustadora.
Quanto aos políticos é vê-los por aí, gente que nunca foi nada de nada sem a sombra protectora de um partido político, que nunca se elevou pelo seu valor intrínseco, e que, ao apanhar-se com as rédeas do poder, incham em cima dos estrados, montados em tacões altos e pose de posso, quero e mando, de dedo em riste cortando o ar, bramindo o seu chicote, ameaçador, perante os seus subalternos que se querem dobrados, silenciosos, rastejantes e despojados de qualquer opinião.

Portugal de hoje também se faz de histórias de gente assim. E este é o Portugal que não me interessa de todo.

Entretanto, e segundo um estudo realizado por Ivone Patrão e Joana Santos Rita, investigadoras do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), metade dos professores portugueses sofre de stress, ansiedade e exaustão. Sofrem da chamada síndrome de burnout, um estado físico, emocional e psicológico associado ao stress e à ansiedade que, nos casos mais graves, pode mesmo levar à depressão.
Nesse estudo, o primeiro aspecto apontado pelos docentes como causa para o distúrbio prende-se com a "dificuldade de gestão dos problemas de indisciplina na sala de aula, com a percepção da desmotivação para o estudo por parte dos alunos e pela pressão para o sucesso". O segundo factor relaciona-se com a "insatisfação com a carga lectiva que lhes é atribuída, por todas as responsabilidades não-educacionais e pela falta de trabalho em equipa e de suporte das chefias, além da pressão de supervisores no que toca à avaliação de desempenho". 
No desenvolvimento deste estudo, que começou em 2009 e ainda decorre, conclui-se  ainda que são os docentes mais velhos, efectivos e com mais anos de experiência juntamente com os professores de Educação Especial e os professores do ensino regular que têm alunos com necessidades educativas especiais nas suas turmas, que apresentam valores mais elevados de ansiedade, esgotamento e preocupações profissionais. 

A escola de hoje também se faz de histórias assim. 

E esta é a escola que, por estas razões e por todas as outras que já referenciei anteriormente, já não me interessa de todo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Do cravo ainda em flor, ao cravo em estado comatoso, quase murcho!

Depois de ter aqui escrito quase tudo o que de mais relevante foi acontecendo ao longo de 34 anos de profissão, sobretudo os contextos que me levaram a optar pela entrada e pela saída da mesma, apetece-me agora fazer um pequeno paralelo daquilo que era a vida em 1978 e aquilo que é hoje em dia, em Portugal.
Naquela altura, estávamos no pós 25 de Abril de 1974 (revolução dos cravos) e saídos recentemente do famoso PREC
Tínhamos saído de um tempo em que não existia liberdade de expressão, em que a actividade política, associativa e sindical era quase nula e, permanentemente, controlada pela polícia política, até 1969 pela PIDE e de 1969 a 1974 pela DGS. De um tempo em que havia presos políticos, de um tempo em que a Constituição não garantia os direitos dos cidadãos e Portugal mantinha uma guerra colonial, encontrando-se praticamente isolado da comunidade internacional.

Entrámos de seguida num período muito intenso sob o ponto de vista social e político. No Verão de 1975 viveram-se experiências verdadeiramente emotivas e que provocaram grande instabilidade social. A Revolução dos militares de Abril assumia um grande pendor marxista, alarmando toda a sociedade portuguesa sobretudo a mais conservada.

Volvidos três anos e embora mais estabilizados politicamente as dificuldades continuavam como tive a oportunidade de descrever ao narrar a minha primeira viagem para Monção e que fiz de comboio, em Novembro de 1978:  “por essa altura, o preço do petróleo subia, a inflação trepava, a dívida externa agravava-se, o Governo decretava impostos e taxas cada vez mais altos, aumentavam os preços dos bens essenciais, por sua vez os trabalhadores exigiam maiores salários e os empresários elevavam custos às mercadorias e serviços”.
Mas essa situação era relativizada pois estávamos num tempo em que valorizávamos, e muito, a liberdade.
Estávamos pobres sim, mas … felizes por termos saído de uma ditadura, por termos deixado a guerra colonial e, sobretudo, cheios de esperança num futuro melhor. Acreditava-se na nossa solidariedade ativa e no modo como era (ou deveria) ser exercida diariamente pelo estado e pelas instituições sociais. 
O cravo estava ainda em flor... :-)

E agora?
Por muito que me esforce em procurar essa esperança, não a encontro.
Qualquer coisa que me possa ocorrer de momento está ligada à crise, ao desemprego, à falta de dinheiro para pagar subsídios, aos filhos dos amigos que optam por ir viver para o estrangeiro, aos amigos que estão pendurados apesar de serem excelentes profissionais.
Diria, para simplificar, que o povo está zangado. Frustrado. Revoltado. 
Os vencimentos dos funcionários públicos foram entretanto reduzidos. No meu caso a redução remuneratória aplicada, nos termos do artigo 19º da Lei 55-A/2010, foi de 7, 914%. Foram também suprimidos o 13º e 14º mês (dizem) até 2018. Reduziram ainda a pensão dos reformados para a qual fizeram descontos  durante toda uma vida de trabalho.
Foram aumentados os descontos para o IRS, o IMI, a factura da Electricidade, da Água e do Gás para a “Compensação aos Operadores” respectivos (EDP, Tejo Energia e Turbo Gás), nos Combustíveis, para o Investimento das Energias Renováveis, para a Utilização do Subsolo, para a Rádio, para a Televisão, para pagamento dos cartões de crédito de políticos, para a recuperação de BPNs, para que os Dias Loureiros, os Duartes Limas, os Isaltinos de Morais e quejandos depositem as economias dos contribuntes em nome deles em offshores, para as novas taxas de Apoio Social, para as remodeladas Taxas de Urgência nos Hospitais, para as asneiras provocadas pelas ideias megalómanas de políticos incompetentes que criaram auto-estradas sem trânsito,  etc., etc., etc., tudo recheado com 23% de IVA. 

Entretanto tomei conhecimento que tenho, tal como cada português, uma dívida de dezoito mil euros ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário Internacional. Logo eu que pensava que não tinha dívidas, já que as que contraí, paguei-as religiosamente.
Por todas estas razões hoje estamos infelizes, descrentes, desiludidos e sem perspectivas de um futuro melhor.

O cravo de Abril está em estado comatoso. Murcho... :-(

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Coincidências …


Nos caminhos que traçámos e percorremos, sozinhos ou acompanhados, deixámos marcas, nuns e noutros, e sobretudo em nós próprios, que o tempo jamais apagará…

Todas as pessoas já tiveram experiências de coincidências significativas ao longo da vida. Por vezes são acontecimentos pouco relevantes, outras vezes são histórias que alteram completamente o rumo dos nossos caminhos.
No meu caso acho que a coincidência mais significativa relaciona-se com a família Pizarro. 
De facto, esta família esteve, de certa forma, ligada à opção que tomei em 1978 de iniciar a carreira docente e estará muito provavelmente ligada a alguns dos factores desmotivacionais que me levaram a pensar em abandoná-la.
Poderei também interpretar ou dizer que foi o acaso. Mas que acaso é este que fez tanto sentido para mim naqueles momentos? Que coincidência foi esta em que tudo pareceu obra maior para me conduzir ao início e ao princípio do fim da minha carreira profissional?
Quanto ao início já tive oportunidade de explicar o que aconteceu e o contexto que me levou a despedir-me do meu primeiro emprego na Casa Pizarro de Castro e dar um novo rumo à minha vida.
Quanto ao fim … tenho vindo a tentar explicar todos os contextos políticos, sociais, profissionais e conjunturais que me levaram a pensar que devo, oportunamente, tomar a opção de partir e deixar esta carreira para sempre.
Esta família teve participação directa no contexto pessoal que elevou a minha desmotivação e contribuiu decisivamente para as decisões que viria a tomar posteriormente.
E de que maneira? Para responder a esta questão falarei, de novo, no meu pai que também nasceu na aldeia de Pinhal do Douro, da Freguesia de Vilarinho da Castanheira, Concelho de Carrazeda de Ansiães, em 23 de Março de 1923. Iniciou serviço de administrador agrícola para a Casa Agrícola do Sr. António Pizarro de Castro, em 1 de Outubro de 1961, com um contrato mensal no valor de 1500 escudos, com direito a casa e a todos os produtos agrícolas necessários para a família.
Prestou serviço nessa casa agrícola durante 47 anos ininterruptos sem nunca ter gozado um fim-de-semana nem férias anuais. Nunca durante todo este tempo recebeu subsídio de férias nem o 13º mês.
Foi internado no Hospital de Bragança em Outubro de 2008, quando ainda se encontrava no activo, fazendo diversos trabalhos, mesmo durante os cinco anos em que fez tratamento de hormonoterapia e quimioterapia no IPO, do Porto. Nunca durante estes cinco anos de penosos tratamentos faltou ao trabalho, excepto nos dias utilizados para os fazer.
De Julho a Setembro de 2008, enquanto os patrões gozavam as suas férias, esteve ao serviço (já na fase terminal da sua doença) assegurando penosamente o normal funcionamento da Casa agrícola. Durante este período fez, pelo seu patrão, todo o tipo de pagamentos: desde os salários dos trabalhadores agrícolas e do pastor, aos fornecedores de combustíveis, aos fornecedores de produtos fitossanitários, etc., utilizando cheques e dinheiro da sua conta bancária. Fê-lo no pressuposto (e/ou confiando) de que os seus patrões, ao chegarem de férias lhe iriam restituir as importâncias adiantadas.
Foi ainda confiando na sua sincera amizade com Luís Pizarro (principal herdeiro de António de Pizarro de Castro) que lhe vendeu, a crédito, as uvas das colheitas de 2007 e de 2008, respectivamente, 19 697 Kg e 24 430 Kg.
Quando faleceu em 15 de Novembro de 2008, partiu sem ter recebido os seus ordenados em atraso (vários meses), sem ter recebido um cêntimo das ditas despesas que pagou pelo patrão, sem ter recebido a quantia que lhe era devida pelas uvas que lhe vendeu e, sobretudo, sem se ter dado conta da forma vil como foi usado e enganado pelo Sr Luís Pizarro, de quem ele tanto gostava e que serviu incondicionalmente, com honestidade, profissionalismo, dedicação e fervor.

Nós, os herdeiros, aguardámos pacientemente pelo acerto de contas. Esperámos e esperámos. Em vão. Nunca o Sr. Luís Pizarro de Castro de dignou tomar a iniciativa de nos pagar aquilo que ficou a dever a meu pai.
Nesta conformidade, fomos forçados ao fim de um ano e de várias reuniões mal sucedidas, convocadas por nossa iniciativa, a lutar nos locais próprios. Com a arrogância e deselegância de quem nunca se adaptou à democracia e ao estado de direito em que vivemos actualmente foi protelando (com desculpas infantis e débeis argumentos) o pagamento das importâncias que nos devia. 

Finalmente e por intermédio do seu advogado chegámos a um acordo "amigável"

Fizemos esse acordo ratificado em Março de 2010 no Cartório Notarial de Alfândega da Fé, aceitando perder parte da dívida sobretudo por duas razões: Por respeito à memória de meu pai que tanto adorava essa família (vá-se lá saber porquê!) e devido à idade avançada de minha mãe, que iria ser exposta a um enorme desconforto, desgaste psicológico e sofrimento permanente até à resolução quase sempre demorada dos tribunais. 
Pelos mesmos motivos desistimos também do processo nº 308/09.0, do Tribunal de Bragança que foi instaurado a nosso pedido e em que Luís Pizarro era arguido.
Foi uma luta que durou mais de três anos e e teve vários desenvolvimentos. Nunca me esquecerei da mesma pois deixou as suas marcas e estou certo que um dia irá fazer parte de algum tipo de publicação com direito a documentos de "apoio".

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Libertando-me deste pesadelo – 15 de Setembro de 2010

                          " o tempo não volta a trás para mudar o presente, mas no  presente pode-se começar a construir um futuro melhor".  
Este pensamento traduz muito do que eu sentia nesse tempo. Por essa altura, e mais uma vez, tive de tomar grandes decisões. Decisões de ruptura com a situação profissional que me foi criada, sobretudo pela conjuntura da política educativa deste país e do governo de então.
Por muito que me tenha custado, teve que ser, pois uma das máximas da minha vida é e sempre foi: “Não serás criminoso; não serás vítima; acima de tudo, não serás um espectador passivo”. 
Foi um tempo não apenas de crise económica e social – foi de aflição. Estava farto duma dor crescente à medida que via jovens colegas desperdiçarem as suas legítimas esperanças de uma vida condigna e outros mais antigos pedindo a antecipação da sua reforma, do género de quem pode, foge. Fugindo para a liberdade. Deixando para trás a loucura e o inferno em que se transformaram as escolas.
Paralelamente, comecei a sentir na alma algumas das consequências de opções erradas assumidas ultimamente talvez porque julguei, cedo demais, que o meu prazo de validade tinha expirado. Os primeiros sinais já tinham alguns anos. Desde então, baseado em pressupostos legais que entretanto foram radicalmente alterados nomeadamente a idade e o tempo de serviço previstos para a aposentação e as alterações profundas no horário e no tipo de apoio a prestar aos alunos com necessidades educativas especiais, fui gradualmente abandonando cargos e funções que, quer por antiguidade, quer por graduação profissional deveria ter assumido e desempenhado. Foi aí que começou o meu auto afastamento do “campo de batalha” ao mesmo tempo que vi a educação especial da minha escola (agrupamento) ganhar uma dimensão nula ou igual a zero.
Talvez não devesse ter cedido nem ter feito tantas concessões mas não foi assim de repente que começou em mim o desejo de mudar, recomeçar e ter outros rumos, fazer a minha vida  de facto voltar a ter cores, sons e sabores, pois sentia dentro de mim que a vida estava insípida e que levantar-me a cada manhã era por demais desanimador e voluntariamente comecei as mudanças na minha vida. Senti em mim que era hora de evoluir num outro sentido e procurar ter uma vida mais rica para lá da escola, alargar os horizontes e procurar que a minha história de vida se tornasse mais rica, mais diversificada e mais feliz.
Apesar de tudo isso foi difícil, muito difícil, tomar a decisão que tomei, pois sentia-me dividido e encurralado entre a minha parte emocional a “ditar-me” uma decisão e a minha parte racional a “ditar-me” outra. No meio desta minha indecisão alguém me disse: “nos tempos que correm ser professor não é uma profissão é uma doença”! 
De facto, com as alterações profundas e radicais efectuadas no ensino em geral e na educação especial em particular, senti como que uma agressão psicológica, sentimentos de angústia, de desilusão e de revolta que me levaram a ter que tomar uma atitude igualmente radical. Senti necessidade de sobreviver no meio desta batalha de sentimentos ambivalentes. Sempre fui solidário e trago em mim a vontade de ajudar, sempre agi com emoção procurando ter os pés assentes no chão. Direi que sendo afável e solidário também não sou submisso.
Chegou portanto a descrença, o desânimo, o dar-me conta que vivo num país de faz de conta em que a pior ministra da educação da nossa democracia foi vista nessa época como um génio; um primeiro-ministro que envergonhou Portugal com as suas mentiras e trapalhadas, qual maçã podre da política portuguesa, malfeitor do povo português, e o coveiro de Portugal em mais de 6 anos; uma Democracia de faz de conta, onde a cidadania era vista como uma brincadeira; uma profissão que deixou de o ser... em que o tempo para ensinar já não era o mesmo; em que os professores andavam sobrecarregados de trabalho e já não tinham o tempo, nem a serenidade, para o que é mais importante: as aulas e a disponibilidade para os alunos. Sentia-se também o medo. Sim, é verdade. O medo estava instalado. 
Sim, chegado a este ponto posso afirmar com todas as letras: estava desmotivado, frustrado, saturado, desconsiderado e farto de me sentir a mais numa escola de cujo léxico desapareceu, como do próprio Estatuto da Carreira Docente, palavras como ensinar e aprender. Que futuro é possível esperar de uma escola (e de um país) onde os professores se sentem a mais?   
Portanto, e porque tal como Mahatma Gandhi, também eu considero que "perderei a minha utilidade no dia em que abafar a voz da consciência em mim" e também em memória do meu passado profissional não pude assim aceitar o que me foi proposto (ou imposto) quase no início deste ano lectivo.
Nesta conformidade, recusei trabalhar numa outra escola para a qual nunca concorri e a cujo quadro nunca pertenci. Recusei ainda, e sobretudo, porque me obrigaria a trabalhar numa unidade de apoio especializado que sempre repudiei por considerar que este é um modelo de ensino demasiado estruturado e preconiza uma Educação Especial em ambiente físico segregado dos restantes alunos da escola e, portanto, em nada contribui, na minha opinião, para a inclusão social dos alunos portadores de deficiência. Não tinha, por isso, nada a ver comigo e com a forma como penso a Educação Especial. Desde que comecei a trabalhar com alunos especiais sempre defendi o incentivo da relação desses alunos com os outros (os ditos normais), permitindo uma riqueza interaccional e um melhor desenvolvimento, designadamente, através da mais completa e normal socialização existindo, simultaneamente, alguns ganhos para os outros alunos, por exemplo, a nível de maiores recursos educativos e do desenvolvimento de atitudes normativas.

Nesse dia 15 de Setembro de 2010, não aceitando aquelas condições que me foram impostas, tomei a decisão de recuar do "campo de batalha" mas ... sem me render ao "inimigo"
Resolvi, em conformidade com a minha consciência, aguardar estrategicamente o melhor momento para desferir o golpe final. Tal como alguém disse: Eu não venci todas as vezes que lutei. Mas perdi todas as vezes que deixei de lutar.     
Não me pus a chorar porque algo correu mal. Vim reflectir, tomar nota, e partir para outra... aproveitar a boa saúde física e mental, recordando as coisas boas do passado e a juventude mas sem nostalgias parvas, porque a juventude ela própria também esteve cheia de nostalgias e de problemas. 
Vim desfrutar a vida e gozar plenamente cada dia sem medo do ócio ou da solidão.
Vim fazer companhia à Amélia, minha mulher, companheira e amiga a quem devo muito daquilo que sou, ou fui, em termos profissionais. Para além do amor, da atenção, da compreensão e do incentivo manifestados ao longo de uma vida.
Juntos não teremos medo de ser felizes agora. Vamos continuar o nosso caminho juntos e sempre unidos, venha o que vier a reservar-nos o futuro. Porque este será sempre influenciado pela positiva vivência actual, que é preciso desfrutar e aproveitar. 
Vim desfrutar a vida porque depois de tantos anos de trabalho, de tantas preocupações, dos falhanços e sucessos acumulados e, sobretudo, dos filhos criados, sabe bem olhar para o mar Atlântico sem pensar em mais nada, assistir ao pôr-do-sol, seguir o voo das gaivotas, ou ler um livro confortavelmente instalado na esplanada de um bar de praia, enquanto se saboreia uma cerveja fresquinha.


E ... celebrar o sol em cada manhã e sorrir.

domingo, 26 de junho de 2011

O Despertar para a dura realidade...


O despertador marca as 8 horas da manhã e começa o aviso estridente de que chegou a hora de saltar da cama para ir trabalhar. A vontade é nula e a motivação que me faz mexer já lá vai há alguns anos. 
Confesso que me sinto confuso, baralhado e em grande sofrimento. Tenho, no entanto, que reagir à imagem negativa que me surge na mente: Lurdes Rodrigues e Sócrates. 
Continuo a esforçar-me para não me deixar vencer pela desmotivação que me prejudica na minha actividade profissional.
Quando comecei a trabalhar em Monção, a motivação estava a altas rotações. A ideia de aprender coisas novas e conhecer pessoas e ambientes diferentes era excitante e agradável. 
Ao fim destas três décadas e meia surgiu esta desmotivação e, como já referi, o problema nem é o trabalho em si, mas o que o rodeia. Divergência de opiniões sucessivas, intrigas e conflitos com colegas, injustiças face ao seu trabalho, excesso de controlo, mudanças legislativas permanentes.
Ter de ensinar, transmitir conhecimentos específicos e diversificados a alunos especiais, organizar o trabalho para cada um deles em função das suas dificuldades e também das suas capacidades e competências, manter a o interesse e a motivação de cada um deles e, simultaneamente, apanhar com tudo isto confesso que se tornou para mim impossível de suportar.
Não esqueço, nem perdoo, os culpados de toda a situação negativa que me aconteceu a mim e ao País.
E, como já tive oportunidade de o referir várias vezes, grande parte de tudo o que de mau aconteceu nessa época deveu-se a José Sócrates e à sua equipa no Ministério da Educação. A sua megalomania e obstinação, aliados à sua irresponsabilidade em relação aos erros cometidos levaram o País e os portugueses para o abismo.
E fizeram-no com a desfaçatez que os caracteriza mas também com perseverança, energia, capacidade de persuasão e, até, com um certo poder de sedução – que explicam, aliás, a corte de admiradores que angariaram e ainda hoje conservam.
Entretanto continuam pendentes os julgamentos dos processos Freeport e Face Oculta, aos quais Sócrates é constantemente associado (fala-se de uma quantia de 200 mil euros para «pagamento ao Pinóquio mais conhecido por Engenheiro Sócrates»). Foram divulgadas, simultaneamente, escutas de conversas entre Sócrates e o reitor da Universidade Independente, Luís Arouca – as quais, não provando nada, disseram (e dizem) muito sobre os interlocutores.
Que respeito merece um primeiro-ministro que telefona constantemente ao reitor da faculdade onde andou para o instruir sobre o que deve e não deve dizer aos jornalistas sobre a sua licenciatura? E que respeito merece um reitor que revela tamanha subserviência perante um ex-aluno que é governante?
Paralelamente, voltam a ser falados os vários milhões que, num espaço de tempo curto, correram pelas contas em offshores de membros da família de José Sócrates.
Tempo de completa loucura em que o País teve a governá-lo um oportunista, vendedor de banha da cobra, bem-falante mas sem princípios. 
Sócrates foi, a meu ver, o político mais obscuro, de formação mais discutível e de carácter mais duvidoso que passou pelo Palácio de S. Bento.
Apesar de tudo o que de mau aconteceu nesta parte final da minha carreira e de toda esta desmotivação, considero que consegui ser sempre um homem independe e que, de certa forma, consegui mudar o significado negativo que tanta gente dá ao conceito de trabalho. De facto, procurei e encontrei há muito tempo a actividade de que mais gostava e que com ela ganhei a vida.
Talvez seja por isso que, globalmente, me sinto tranquilo e realizado enquanto aguardo a melhor oportunidade para apresentar a minha aposentação antecipada.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O início da debandada...

Chegou a altura de reflectir mais um pouco e pensar melhor em todos os motivos que me levaram a desmobilizar, a desinvestir e a relativizar a importância do trabalho. Pretendo fazer esta introspecção não como meio para reforçar toda esta desmotivação profissional mas sim como elemento que permita reflectir qual o caminho que quero e devo traçar e percorrer.
Será sempre uma decisão pessoal e devo fundamentá-la interiormente para que não caia em contradições e incongruências que posteriormente me poderão levar ao arrependimento.

O meu estado de espírito, no início do ano lectivo 2010/2011, era permanentemente assaltado pelos seguintes pensamentos.

Durante décadas tive um acordo com o Estado, representado pelo Ministério da Educação, assinado de boa-fé por ambas as partes, que garantia a minha aposentação ao fim de trinta e seis anos de serviço, independente da idade. Posteriormente, e de forma unilateral, esse mesmo Estado alterou esse contrato permitindo a minha aposentação apenas aos sessenta anos de idade, desde que tivesse os tais 36 anos de serviço. Mais recentemente, o Governo de Sócrates, ainda dentro da febre legislativa que o assolou, alterou-o de novo e mais uma vez sem a minha assinatura e muito menos o meu consentimento, para os 65 anos de idade.
Sinto-me enganado pelo próprio Estado, aquele em quem eu sempre confiei e defendi. Estou portanto perante alguém que é batoteiro, porque não cumpre os contratos que assina e, pelo contrário, impõe novas regras a quem está, como eu, no final de carreira, sem qualquer respeito pelos direitos e compromissos assumidos.
Consequentemente, é para mim demasiado penoso continuar por muito mais tempo a trabalhar e … impossível continuar a descontar para além dos tais 36 anos de serviço.

Em tempo próximo e que considere o mais oportuno ir-me-ei embora mesmo sabendo que levarei com uma forte penalização no meu vencimento. Provavelmente irei perder cerca de 1/3  da minha reforma. É o preço que terei de pagar pela minha liberdade e para poder dizer sempre o que sinto e penso.

Apesar desta reflexão ser individual e não ser influenciada pelos outros, não posso deixar de constatar que havia, nessa época e em todas as escolas do país, professores a pedir a aposentação antecipada.
E por motivos iguais ou semelhantes aos meus.
Nos grupos de recrutamento de Educação Tecnológica, a debandada tem sido geral, havendo já enormes dificuldades em conseguir substitutos nas cíclicas. O mesmo acontece com o grupo de recrutamento de Contabilidade e Economia em que centenas de professores optaram por reformas antecipadas, com penalizações de 40% porque preferem ir trabalhar como profissionais liberais. Muitos outros professores de todos os grupos disciplinares vão embora porque não aguentam mais a humilhação de serem avaliados por colegas mais novos e com menos habilitações académicas. Não aguentam a quantidade de papelada, reuniões e burocracia. Não conseguem dispor de tempo para ensinar. Fogem porque não aceitam o novo paradigma de escola e professor e não aceitam ser prestadores de cuidados sociais e funcionários administrativos. Só não sai quem não pode. Ou porque não consegue suportar os cortes no vencimento ou porque não tem a idade mínima exigida.
Com governos como o de Sócrates e Lurdes Rodrigues, a escola deixou de se preocupar com a educação e o ensino. Preocupou-se muito mais em retirar autoridade aos professores, descredibilizando-os perante a opinião pública com o objectivo de lhes retirar poder reivindicativo e, deste modo, poderem, à vontade e sem grandes lutas políticas, retirar-lhes direitos adquiridos e consagrados na própria Constituição da República. 

O exemplo deveria vir de cima. Com maus exemplos destes a escola transformou-se para pior.
A principal missão dos professores era ensinar. Actualmente passam mais tempo a preencher papeis, a fazer relatórios, a frequentar acções de formação, a pensar na avaliação, a reunir para transmitir informações sobre burocracias, a ver emails e enviar emails para os aolegas sobre burocracias que têm de ser feitas do que a leccionar, a preparar as suas actividades de aulas e de escola.
O resultado está à vista: os professores despojados, roubados no bolso e na dignidade fogem e os jovens deixam a escola muito mal preparados em matéria de civismo e respeito pelas leis, normas e relações de cortesia. Depois de retiraram ao professor o seu papel principal de ensinar, transformando-o em funcionário administrativo e ama-seca de crianças os alunos tornaram-se insolentes e malcomportados.
É o sistema que temos e quem realmente gosta da profissão e é competente ou chega ao limite da sua sanidade mental na tentativa de superar todas estas dificuldades, ou falha, ou desiste …

A escola deixou de formar para a aquisição dos bons hábitos.
Esta deixou de ser a minha escola.