quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Coincidências …


Nos caminhos que traçámos e percorremos, sozinhos ou acompanhados, deixámos marcas, nuns e noutros, e sobretudo em nós próprios, que o tempo jamais apagará…

Todas as pessoas já tiveram experiências de coincidências significativas ao longo da vida. Por vezes são acontecimentos pouco relevantes, outras vezes são histórias que alteram completamente o rumo dos nossos caminhos.
No meu caso acho que a coincidência mais significativa relaciona-se com a família Pizarro. 
De facto, esta família esteve, de certa forma, ligada à opção que tomei em 1978 de iniciar a carreira docente e estará muito provavelmente ligada a alguns dos factores desmotivacionais que me levaram a pensar em abandoná-la.
Poderei também interpretar ou dizer que foi o acaso. Mas que acaso é este que fez tanto sentido para mim naqueles momentos? Que coincidência foi esta em que tudo pareceu obra maior para me conduzir ao início e ao princípio do fim da minha carreira profissional?
Quanto ao início já tive oportunidade de explicar o que aconteceu e o contexto que me levou a despedir-me do meu primeiro emprego na Casa Pizarro de Castro e dar um novo rumo à minha vida.
Quanto ao fim … tenho vindo a tentar explicar todos os contextos políticos, sociais, profissionais e conjunturais que me levaram a pensar que devo, oportunamente, tomar a opção de partir e deixar esta carreira para sempre.
Esta família teve participação directa no contexto pessoal que elevou a minha desmotivação e contribuiu decisivamente para as decisões que viria a tomar posteriormente.
E de que maneira? Para responder a esta questão falarei, de novo, no meu pai que também nasceu na aldeia de Pinhal do Douro, da Freguesia de Vilarinho da Castanheira, Concelho de Carrazeda de Ansiães, em 23 de Março de 1923. Iniciou serviço de administrador agrícola para a Casa Agrícola do Sr. António Pizarro de Castro, em 1 de Outubro de 1961, com um contrato mensal no valor de 1500 escudos, com direito a casa e a todos os produtos agrícolas necessários para a família.
Prestou serviço nessa casa agrícola durante 47 anos ininterruptos sem nunca ter gozado um fim-de-semana nem férias anuais. Nunca durante todo este tempo recebeu subsídio de férias nem o 13º mês.
Foi internado no Hospital de Bragança em Outubro de 2008, quando ainda se encontrava no activo, fazendo diversos trabalhos, mesmo durante os cinco anos em que fez tratamento de hormonoterapia e quimioterapia no IPO, do Porto. Nunca durante estes cinco anos de penosos tratamentos faltou ao trabalho, excepto nos dias utilizados para os fazer.
De Julho a Setembro de 2008, enquanto os patrões gozavam as suas férias, esteve ao serviço (já na fase terminal da sua doença) assegurando penosamente o normal funcionamento da Casa agrícola. Durante este período fez, pelo seu patrão, todo o tipo de pagamentos: desde os salários dos trabalhadores agrícolas e do pastor, aos fornecedores de combustíveis, aos fornecedores de produtos fitossanitários, etc., utilizando cheques e dinheiro da sua conta bancária. Fê-lo no pressuposto (e/ou confiando) de que os seus patrões, ao chegarem de férias lhe iriam restituir as importâncias adiantadas.
Foi ainda confiando na sua sincera amizade com Luís Pizarro (principal herdeiro de António de Pizarro de Castro) que lhe vendeu, a crédito, as uvas das colheitas de 2007 e de 2008, respectivamente, 19 697 Kg e 24 430 Kg.
Quando faleceu em 15 de Novembro de 2008, partiu sem ter recebido os seus ordenados em atraso (vários meses), sem ter recebido um cêntimo das ditas despesas que pagou pelo patrão, sem ter recebido a quantia que lhe era devida pelas uvas que lhe vendeu e, sobretudo, sem se ter dado conta da forma vil como foi usado e enganado pelo Sr Luís Pizarro, de quem ele tanto gostava e que serviu incondicionalmente, com honestidade, profissionalismo, dedicação e fervor.

Nós, os herdeiros, aguardámos pacientemente pelo acerto de contas. Esperámos e esperámos. Em vão. Nunca o Sr. Luís Pizarro de Castro de dignou tomar a iniciativa de nos pagar aquilo que ficou a dever a meu pai.
Nesta conformidade, fomos forçados ao fim de um ano e de várias reuniões mal sucedidas, convocadas por nossa iniciativa, a lutar nos locais próprios. Com a arrogância e deselegância de quem nunca se adaptou à democracia e ao estado de direito em que vivemos actualmente foi protelando (com desculpas infantis e débeis argumentos) o pagamento das importâncias que nos devia. 

Finalmente e por intermédio do seu advogado chegámos a um acordo "amigável"

Fizemos esse acordo ratificado em Março de 2010 no Cartório Notarial de Alfândega da Fé, aceitando perder parte da dívida sobretudo por duas razões: Por respeito à memória de meu pai que tanto adorava essa família (vá-se lá saber porquê!) e devido à idade avançada de minha mãe, que iria ser exposta a um enorme desconforto, desgaste psicológico e sofrimento permanente até à resolução quase sempre demorada dos tribunais. 
Pelos mesmos motivos desistimos também do processo nº 308/09.0, do Tribunal de Bragança que foi instaurado a nosso pedido e em que Luís Pizarro era arguido.
Foi uma luta que durou mais de três anos e e teve vários desenvolvimentos. Nunca me esquecerei da mesma pois deixou as suas marcas e estou certo que um dia irá fazer parte de algum tipo de publicação com direito a documentos de "apoio".