domingo, 22 de julho de 2012

Interregno…

Este blogue está temporariamente encerrado.
Vai assim estar enquanto durar este meu “retiro” do campo de batalha em que se transformou a Escola.
De momento respondo individualmente (e com as únicas armas que possuo) à guerra que o anterior governo declarou aos professores e que o governo actual generalizou a todos os funcionários públicos.
Depois de ter lutado colectivamente, fazendo greves e participando em todas as manifestações realizadas e ter chegado à conclusão que perdemos, resolvi lutar sozinho -  não me rendendo ao "inimigo".
Quando acabar de lutar, regressarei vitorioso e, então sim, poderei concluir o meu trabalho e atingir os objectivos que defini neste blogue. Finalizando-o. Está para breve!

sábado, 23 de junho de 2012

Portugal 2012

Portugal, país onde nasci em tempos de ditadura, mudou muito nestas últimas décadas. 
Se o 25 de Abril, como referi no último post, nos encheu a todos de esperança em dias melhores, que se cumpriram em parte, nos últimos anos temos assistido a retrocessos vindos de todos os lados.
A nossa dívida externa é hoje assustadora e vai piorar em consequência das megalomanias e dos desvarios dos nossos governantes. A taxa de desemprego é hoje assustadora e vai continuar a piorar ao mesmo ritmo da destruição do emprego neste país. A sensação de insegurança é hoje mais assustadora do que nunca, fruto dos assaltos violentos que assolam Portugal de Norte a Sul. A corrupção, ou o que vamos conhecendo dela, é hoje assustadora e mete coisas estranhas como histórias de off-shores, de malas com dinheiro vivo para pagamentos esquisitos, de pressões para silenciar juízes, de construções desenfreadas em locais protegidos etc. etc.
Entretanto a burocracia cresceu de forma assustadora em todos os sectores. A Justiça e, sobretudo, a imagem que hoje temos dela, é assustadora.
Quanto aos políticos é vê-los por aí, gente que nunca foi nada de nada sem a sombra protectora de um partido político, que nunca se elevou pelo seu valor intrínseco, e que, ao apanhar-se com as rédeas do poder, incham em cima dos estrados, montados em tacões altos e pose de posso, quero e mando, de dedo em riste cortando o ar, bramindo o seu chicote, ameaçador, perante os seus subalternos que se querem dobrados, silenciosos, rastejantes e despojados de qualquer opinião.

Portugal de hoje também se faz de histórias de gente assim. E este é o Portugal que não me interessa de todo.

Entretanto, e segundo um estudo realizado por Ivone Patrão e Joana Santos Rita, investigadoras do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), metade dos professores portugueses sofre de stress, ansiedade e exaustão. Sofrem da chamada síndrome de burnout, um estado físico, emocional e psicológico associado ao stress e à ansiedade que, nos casos mais graves, pode mesmo levar à depressão.
Nesse estudo, o primeiro aspecto apontado pelos docentes como causa para o distúrbio prende-se com a "dificuldade de gestão dos problemas de indisciplina na sala de aula, com a percepção da desmotivação para o estudo por parte dos alunos e pela pressão para o sucesso". O segundo factor relaciona-se com a "insatisfação com a carga lectiva que lhes é atribuída, por todas as responsabilidades não-educacionais e pela falta de trabalho em equipa e de suporte das chefias, além da pressão de supervisores no que toca à avaliação de desempenho". 
No desenvolvimento deste estudo, que começou em 2009 e ainda decorre, conclui-se  ainda que são os docentes mais velhos, efectivos e com mais anos de experiência juntamente com os professores de Educação Especial e os professores do ensino regular que têm alunos com necessidades educativas especiais nas suas turmas, que apresentam valores mais elevados de ansiedade, esgotamento e preocupações profissionais. 

A escola de hoje também se faz de histórias assim. 

E esta é a escola que, por estas razões e por todas as outras que já referenciei anteriormente, já não me interessa de todo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Do cravo ainda em flor, ao cravo em estado comatoso, quase murcho!

Depois de ter aqui escrito quase tudo o que de mais relevante foi acontecendo ao longo de 34 anos de profissão, sobretudo os contextos que me levaram a optar pela entrada e pela saída da mesma, apetece-me agora fazer um pequeno paralelo daquilo que era a vida em 1978 e aquilo que é hoje em dia, em Portugal.
Naquela altura, estávamos no pós 25 de Abril de 1974 (revolução dos cravos) e saídos recentemente do famoso PREC
Tínhamos saído de um tempo em que não existia liberdade de expressão, em que a actividade política, associativa e sindical era quase nula e, permanentemente, controlada pela polícia política, até 1969 pela PIDE e de 1969 a 1974 pela DGS. De um tempo em que havia presos políticos, de um tempo em que a Constituição não garantia os direitos dos cidadãos e Portugal mantinha uma guerra colonial, encontrando-se praticamente isolado da comunidade internacional.

Entrámos de seguida num período muito intenso sob o ponto de vista social e político. No Verão de 1975 viveram-se experiências verdadeiramente emotivas e que provocaram grande instabilidade social. A Revolução dos militares de Abril assumia um grande pendor marxista, alarmando toda a sociedade portuguesa sobretudo a mais conservada.

Volvidos três anos e embora mais estabilizados politicamente as dificuldades continuavam como tive a oportunidade de descrever ao narrar a minha primeira viagem para Monção e que fiz de comboio, em Novembro de 1978:  “por essa altura, o preço do petróleo subia, a inflação trepava, a dívida externa agravava-se, o Governo decretava impostos e taxas cada vez mais altos, aumentavam os preços dos bens essenciais, por sua vez os trabalhadores exigiam maiores salários e os empresários elevavam custos às mercadorias e serviços”.
Mas essa situação era relativizada pois estávamos num tempo em que valorizávamos, e muito, a liberdade.
Estávamos pobres sim, mas … felizes por termos saído de uma ditadura, por termos deixado a guerra colonial e, sobretudo, cheios de esperança num futuro melhor. Acreditava-se na nossa solidariedade ativa e no modo como era (ou deveria) ser exercida diariamente pelo estado e pelas instituições sociais. 
O cravo estava ainda em flor... :-)

E agora?
Por muito que me esforce em procurar essa esperança, não a encontro.
Qualquer coisa que me possa ocorrer de momento está ligada à crise, ao desemprego, à falta de dinheiro para pagar subsídios, aos filhos dos amigos que optam por ir viver para o estrangeiro, aos amigos que estão pendurados apesar de serem excelentes profissionais.
Diria, para simplificar, que o povo está zangado. Frustrado. Revoltado. 
Os vencimentos dos funcionários públicos foram entretanto reduzidos. No meu caso a redução remuneratória aplicada, nos termos do artigo 19º da Lei 55-A/2010, foi de 7, 914%. Foram também suprimidos o 13º e 14º mês (dizem) até 2018. Reduziram ainda a pensão dos reformados para a qual fizeram descontos  durante toda uma vida de trabalho.
Foram aumentados os descontos para o IRS, o IMI, a factura da Electricidade, da Água e do Gás para a “Compensação aos Operadores” respectivos (EDP, Tejo Energia e Turbo Gás), nos Combustíveis, para o Investimento das Energias Renováveis, para a Utilização do Subsolo, para a Rádio, para a Televisão, para pagamento dos cartões de crédito de políticos, para a recuperação de BPNs, para que os Dias Loureiros, os Duartes Limas, os Isaltinos de Morais e quejandos depositem as economias dos contribuntes em nome deles em offshores, para as novas taxas de Apoio Social, para as remodeladas Taxas de Urgência nos Hospitais, para as asneiras provocadas pelas ideias megalómanas de políticos incompetentes que criaram auto-estradas sem trânsito,  etc., etc., etc., tudo recheado com 23% de IVA. 

Entretanto tomei conhecimento que tenho, tal como cada português, uma dívida de dezoito mil euros ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário Internacional. Logo eu que pensava que não tinha dívidas, já que as que contraí, paguei-as religiosamente.
Por todas estas razões hoje estamos infelizes, descrentes, desiludidos e sem perspectivas de um futuro melhor.

O cravo de Abril está em estado comatoso. Murcho... :-(