Depois de ter aqui escrito quase tudo o que de mais relevante foi acontecendo ao longo de 34
anos de profissão, sobretudo os contextos que me levaram a optar pela entrada e
pela saída da mesma, apetece-me agora fazer um pequeno paralelo daquilo que era
a vida em 1978 e aquilo que é hoje em dia, em Portugal.
Naquela altura, estávamos no pós 25 de Abril de
1974 (revolução dos cravos) e saídos recentemente do famoso PREC.
Tínhamos saído de um tempo em que não
existia liberdade de expressão, em que a actividade política, associativa e
sindical era quase nula e, permanentemente, controlada pela polícia política, até 1969 pela PIDE e de 1969 a 1974 pela DGS. De
um tempo em que havia presos políticos, de um tempo em que a Constituição não
garantia os direitos dos cidadãos e Portugal mantinha uma guerra colonial,
encontrando-se praticamente isolado da comunidade internacional.
Entrámos de seguida num período muito intenso sob o ponto de vista social e político. No Verão de 1975 viveram-se experiências verdadeiramente emotivas e que provocaram grande instabilidade social. A Revolução dos militares de Abril assumia um grande pendor marxista, alarmando toda a sociedade portuguesa sobretudo a mais conservada.
Volvidos três anos e embora
mais estabilizados politicamente as dificuldades continuavam como tive a
oportunidade de descrever ao narrar a minha primeira viagem para Monção e que
fiz de comboio, em Novembro de 1978: “por essa altura, o preço do petróleo subia,
a inflação trepava, a dívida externa agravava-se, o Governo decretava impostos
e taxas cada vez mais altos, aumentavam os preços dos bens essenciais, por sua vez
os trabalhadores exigiam maiores salários e os empresários elevavam custos às
mercadorias e serviços”.
Mas essa situação era relativizada pois estávamos
num tempo em que valorizávamos, e muito, a
liberdade.
Estávamos pobres sim, mas … felizes por termos
saído de uma ditadura, por termos deixado a guerra colonial e, sobretudo, cheios de esperança num futuro melhor.
Acreditava-se na nossa solidariedade ativa e no modo como era (ou deveria) ser
exercida diariamente pelo estado e pelas instituições sociais.
O cravo estava ainda em flor... :-)
O cravo estava ainda em flor... :-)
E agora?
Por muito que me esforce em procurar essa esperança,
não a encontro.
Qualquer coisa que me possa ocorrer de momento
está ligada à crise, ao desemprego, à falta de dinheiro para pagar subsídios,
aos filhos dos amigos que optam por ir viver para o estrangeiro, aos amigos que estão pendurados apesar de serem excelentes
profissionais.
Diria, para simplificar, que o povo está zangado. Frustrado. Revoltado.
Os vencimentos dos funcionários públicos foram entretanto reduzidos. No meu caso a redução remuneratória aplicada, nos termos do artigo 19º da Lei 55-A/2010, foi de 7, 914%. Foram também suprimidos o 13º e 14º mês (dizem) até 2018. Reduziram ainda a pensão dos reformados para a qual fizeram descontos durante toda uma vida de trabalho.
Os vencimentos dos funcionários públicos foram entretanto reduzidos. No meu caso a redução remuneratória aplicada, nos termos do artigo 19º da Lei 55-A/2010, foi de 7, 914%. Foram também suprimidos o 13º e 14º mês (dizem) até 2018. Reduziram ainda a pensão dos reformados para a qual fizeram descontos durante toda uma vida de trabalho.
Foram aumentados os descontos para o IRS, o
IMI, a factura da Electricidade, da Água e do Gás para a “Compensação aos
Operadores” respectivos (EDP, Tejo Energia e Turbo Gás), nos Combustíveis, para
o Investimento das Energias Renováveis, para a Utilização
do Subsolo, para a Rádio, para a Televisão, para pagamento dos cartões de
crédito de políticos, para
a recuperação de BPNs, para que os Dias Loureiros, os Duartes Limas, os
Isaltinos de Morais e quejandos depositem as economias dos contribuntes em nome deles em
offshores, para as novas taxas de Apoio Social, para as remodeladas Taxas de
Urgência nos Hospitais, para as asneiras provocadas pelas ideias
megalómanas de políticos incompetentes que criaram auto-estradas sem trânsito, etc., etc., etc., tudo recheado com 23% de IVA.
Entretanto tomei conhecimento que tenho, tal como cada português, uma dívida de dezoito mil euros ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário Internacional. Logo eu que pensava que não tinha dívidas, já que as que contraí, paguei-as religiosamente.
Entretanto tomei conhecimento que tenho, tal como cada português, uma dívida de dezoito mil euros ao Banco Central Europeu e ao Fundo Monetário Internacional. Logo eu que pensava que não tinha dívidas, já que as que contraí, paguei-as religiosamente.
Por todas estas razões hoje estamos infelizes,
descrentes, desiludidos e sem perspectivas de um futuro melhor.
O cravo de Abril está em estado comatoso. Murcho... :-(