Novembro de 1978.
Nunca tinha visitado esta Vila minhota pelo que, ao chegar à antiga estação dos caminhos-de-ferro e depois de descer do comboio, foi com a curiosidade natural de um turista que chega a um lugar onde nunca antes tinha estado que procurei ver e reparar em tudo ao meu redor.
Tinha consciência de que Monção era considerada uma das mais bonitas e saudáveis localidades do Alto Minho e foi já na segunda metade do século XX, exactamente no dia 21 de Novembro de 1978, pelas 19 horas, que pisei pela primeira vez esta terra, com a disposição de aqui ficar pelo menos até Julho do ano seguinte. Cheguei completamente anónimo, candidato a professor, a alma cheia de ilusões e os bolsos praticamente vazios.
Entrei, carregado com uma mala de roupa e um saco cheio de livros e um reprodutor de cassetes que o meu avô me tinha oferecido, na Praça Deu-la-deu Martins e olhei à minha volta, sarapantado, curioso e ainda não totalmente refeito das longas horas de uma viagem que foi tanto de bela quanto de sonolenta e monocórdica.
Esta viagem começou bem cedo, em Vila Flor, no sul do nordeste transmontano. Apanhei a camioneta de marca Bedford que circulava desde a década de 50, pintada de amarelo e com uma grande barra pintada de verde florescente que, por sua vez, tinha escrito com letras trabalhadas a preto "Sociedade de Transportes Vila Flor". Levou-me, com pachorrentas paragens em todas as aldeias, até à estação dos caminhos-de-ferro do Tua, onde esperei pacientemente pelo comboio que haveria de me levar até Ermesinde.
Depois de entrar no comboio e de me ter sentado o mais confortavelmente possível num dos bancos de madeira na carruagem do meio e que era classificada de 2ª classe, pude desfrutar desse dia de sol pálido, mas que iluminava a paisagem montanhosa que se ia desdobrando na linha do meu horizonte e esse paraíso terrestre que é o Douro e as suas encostas com socalcos de vinhas recheadas por quintas de casario branco caiado e montanhas salpicadas de igrejas barrocas.
Foram horas de tranquilidade e de prazer a atravessar esta bela região, um espaço único, situado entre vales profundos, protegidos por montanhas, e que é rico em micro-climas como consequência da sua acidentada orografia e com forte influência que exercem as serras do Marão e de Montemuro, que servem de barreira à passagem dos ventos húmidos de oeste e que criam, deste modo, as condições únicas para a produção do famoso Vinho do Porto, um dos poucos produtos de excelência em que Portugal integra a elite mundial mais qualificada.
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