Carrazeda de Ansiães é o meu concelho.
No primeiro dia de aulas, subia as escadas de granito gastas pelo uso, pelo tempo e pelas intempéries, para o primeiro andar do edifício onde iria dar a primeira aula do segundo ano de trabalho.
Subia pensativo e sorumbático a antiga casa da Câmara, um edifício antigo e de granito, que me remeteu, nesses instantes, para recordações de infância muito ténues e vagas mas simultaneamente muito tristes. As portas e as janelas do rés-do-chão ainda apresentavam as grades de ferro tão características das cadeias da época.
Fonte das Sereias |
A casa restaurada |
E os meus pensamentos levaram-me, voando pelo tempo e pelo espaço, para a minha pequena aldeia, uma minúscula localidade, Pinhal do Douro.
Nasci aqui numa casa pequena, de granito, de dois pisos e de três frentes. Na frente principal e do outro lado da pequena rua levanta-se a bonita Igreja da aldeia, alcandorada num alto, toda granítica, com um muro no adro também em pedra escurecida pelo tempo.
Nasci aqui numa casa pequena, de granito, de dois pisos e de três frentes. Na frente principal e do outro lado da pequena rua levanta-se a bonita Igreja da aldeia, alcandorada num alto, toda granítica, com um muro no adro também em pedra escurecida pelo tempo.
É uma aldeia tipicamente transmontana que fica situada num planalto sobranceiro a caminho do Rio do mesmo nome e pertence ao concelho de Carrazeda que por sua vez fica situado no extremo sudoeste do distrito de Bragança, fazendo fronteira com o distrito de Vila Real. Embora esteja incluído na Terra Quente Transmontana, apresenta duas realidades muito diferentes, que contrastam e se completam. Na parte Norte, aparece a zona de planalto, com características de zona fria, onde predomina o granito e se produz a batata e o cereal. Na parte Sul, mais próxima dos rios Tua e Douro, a temperatura sobe e muda também a paisagem, aqui com características de Terra Quente, onde predomina o xisto e se produz a vinha, a oliveira e a amendoeira.
Apesar de ser uma aldeia que fica situada numa região lindíssima, com paisagens quase selvagens e paradisíacas, nunca mais gostei de lá ir e muito menos de recordar alguns dos episódios que por lá vivi e presenciei até aos 7 anos de idade, excepto aqueles momentos de brincadeira e convívio com muitos dos primos que agora vivem espalhados pelo país, pela Europa, pelo Brasil, enfim, pelo Mundo.
Apesar de ser uma aldeia que fica situada numa região lindíssima, com paisagens quase selvagens e paradisíacas, nunca mais gostei de lá ir e muito menos de recordar alguns dos episódios que por lá vivi e presenciei até aos 7 anos de idade, excepto aqueles momentos de brincadeira e convívio com muitos dos primos que agora vivem espalhados pelo país, pela Europa, pelo Brasil, enfim, pelo Mundo.
Tristes recordações!
Tudo começou com José do Nascimento Carriço e Felismina Gordinho, por volta do ano de 1920.
Ela era filha do principal proprietário das redondezas. Tinha vinhas - que produziam vinho maduro e generoso, muitos olivais, amendoais, sobreirais e muitos terrenos onde semeavam ou plantavam o centeio, o trigo, as batatas, os produtos hortícolas, árvores de fruto e outros. Pertencia a uma família considerada rica se comparada com o resto da população em que praticamente todos eram assalariados agrícolas e com pequenas hortas onde produziam os bens mínimos e essenciais para a sua subsistência.
Ele tinha uma profissão muito em voga na época - era passador e contrabandista. Ou seja, levava candidatos a emigrantes para alguns dos países da Europa - principalmente para França. Para fazer esse trabalho tinha bons cavalos, dos melhores, muito bem tratados, arreados e artilhados. Era com eles que transportava os candidatos a emigrantes clandestinos - sobretudo aqueles que não tinham passaporte nem autorização para sair do País - por montes e vales escondidos das autoridades policiais da época. Levava e trazia também alguns artigos de contrabando bem escondidos em alforges que pendiam das albardas de cada um dos seus robustos cavalos.
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