quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O Projecto "Viva a Escola"

Por essa época coordenava o Projecto “Viva a Escola”, do Projecto VIDA, que me envolvia, entusiasmava e “gastava” totalmente os meus tempos livres. Era um projecto em que eu acreditava e que propunha introduzir e accionar mecanismos de prevenção primária da toxicodependência no meio escolar.
Tinha sido criado pelo Ministério da Educação e lançado experimentalmente, com a duração de três anos, em 61 escolas, no ano de 1990/91
Apresentei este projecto, entre outros motivos, porque considerava que a escola, nessa época, era marcada pela hipervalorização dos saberes conceptuais, em detrimento das áreas das expressões. E porque os alunos eram, como qualquer outra pessoa, seres únicos, portanto diferentes em que uns eram bem sucedidos na aquisição dos saberes que a escola valorizava desde sempre e outros eram competentes em áreas novas do saber e do saber fazer.
Por outro lado, uma significativa percentagem dos alunos que declarava já ter consumido drogas ilícitas, eram alunos com grande insucesso escolar o que, naturalmente, contribuía para o seu baixo auto-conceito e que os tornava presas mais fáceis dos pequenos traficantes.
A escola marginalizando, nalgumas situações, aqueles que fugiam ao padrão do aluno médio tinha que assumir definitivamente um papel fundamental na prevenção primária de toxicodependências.
Para tal era urgente procurar desenvolver nos jovens comportamentos de autonomia, responsabilidade e sentido crítico, proporcionar-lhes as condições para a vivência de sentimentos de prazer, emoção e risco controlado e construir climas de escola cooperativos, dinâmicos e estimulantes, capazes de fazer deles um factor decisivo no desenvolvimento da sua auto-estima e de lhes facilitar a aquisição do sentido de pertença a um grupo.
A escola, como espaço privilegiado de educação formal não podia ignorar estes pressupostos.

Neste contexto, o projecto "Viva a Escola" procurou desde a sua criação implementar na escola processos de mudança que deveriam ir desde a qualidade da relação pedagógica e do processo de ensino - aprendizagem, à co-responsabilização dos alunos em diferentes níveis da organização da vida escolar.

Ao apresentar o projecto comecei por fazer a caracterização do contexto no qual ele se iria implementar.
A escola secundária estava localizada num meio rural onde a grande maioria da população activa vivia activamente da agricultura. Tendo o sector secundário uma expressão reduzida e sendo o sector terciário e os serviços de pequena dimensão, o concelho era (e é) um espaço de repulsão demográfica quer para o litoral (êxodo rural), quer para o estrangeiro (emigração definitiva ou sazonal).
Os espaços culturais ao dispor da população eram escassos (uma Biblioteca Municipal, um Museu e algumas Associações Culturais), não existindo espaço de cinema ou de teatro.
A maioria dos alunos vivia nas 19 freguesias do Concelho, algumas delas bem distantes da escola, deslocando-se diariamente nos transportes escolares que eram fornecidos pela Câmara Municipal. Esses alunos chegavam à escola pelas oito horas e regressavam a casa apenas às dezoito/dezanove horas, estando assim, afastados da família entre dez a onze horas diárias.
Porque existiam carências de estruturas educativas com espaços de lazer e de convívio, os cafés e tabernas existentes nas proximidades da escola funcionavam como os únicos locais de ocupação do tempo livre e de convívio.
Outro dos principais problemas detectados tinha muito a ver com a presença na escola de grupos sócio-culturais diferenciados a quem o currículo nacional não permitia a afirmação e que frequentemente eram os principais alvos de insucesso e de abandono escolar.
Por sua vez, o modelo de apoio pedagógico acrescido em vigor para os alunos com insucesso escolar também não tinha obtido os resultados previstos. Muitos professores ao confundirem especificidades culturais com handicaps cognitivos dos alunos, limitavam-se a reproduzir nas chamadas aulas de compensação educativa os esquemas homogeneizadores das aulas normais.
Não eram utilizadas estratégias de pedagogia diferenciada que fossem de encontro à realidade individual e sócio-cultural de cada aluno.
Destes pressupostos ressaltava que grande parte dos alunos andava fortemente desmotivada e passava muito tempo na escola sem ocupação orientada para além do seu horário lectivo.
Todo este tempo livre, juntamente com a falta de um acompanhamento familiar adequado funcionava como possíveis factores de envolvimento dos jovens em actividades e práticas menos indicadas, as quais poderão ser responsáveis pela elevada taxa de insucesso e abandono escolar.

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