quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Valadares e o projecto "O Direito à Diferença"

Valadares situa-se no Concelho de Vila Nova de Gaia e pertence ao Distrito do Porto. Foi uma freguesia rural muito marcada, com uma zona plana e muito produtiva, onde se produzia trigo, milho, cevada e centeio. De uma população eminente mente rural que vivia dos produtos que colhia da terra e que vendia nos mercados do Porto, do fabrico artesanal de objectos de vime, de sapateiros e taberneiros, a população de Valadares foi a pouco e pouco diversificando as suas actividades culminando com a implantação industrial através da Fábrica Cerâmica de Valadares que foi a primeira fábrica em Portugal a produzir louça sanitária vitrificada, transformando-se por essa altura numa empresa de renome mundial, com 600 postos de trabalho ligados às áreas de louça sanitária, conjuntos completos de casa de banho e banheiras de hidromassagem.

Foi para este concelho e para esta freguesia com este contexto sócio cultural que vim trabalhar a partir do ano lectivo de 1995/96.
Vim destacado para a Equipa de Educação Especial das Devesas, tendo sido posteriormente colocado na Escola EB 2/3 de Valadares para coordenar e desenvolver o Projecto o “Direito à Diferença”.
Este projecto tinha como principal finalidade criar condições de acesso à escola regular e de sucesso educativo a jovens adolescentes com deficiência mental moderada/grave, numa perspectiva de integração social, de promoção da autonomia e de desenvolvimento de competências ao nível pré-profissional.
Ele foi pensado e “desenhado” pela então denominada Equipa de Educação Especial das Devesas, em colaboração com o Conselho Directivo da Escola Básica 2/3 de Valadares, tendo em consideração, entre outros, os seguintes princípios
fundamentais:
- a igualdade de oportunidades;
- o direito à diferença;
- o direito a participar na sociedade e a relatividade da deficiência.
Caracterizando-o ainda mais genericamente direi que encarnava perfeitamente, pondo-o mesmo em prática, o espírito dos princípios defendidos na Conferência de Salamanca (1994) onde ficou bem clara a mensagem e o reconhecimento de que é necessário conseguir Escolas para todos e que todos os alunos devem aprender juntos.
Nasceu a partir daqui um novo paradigma em educação especial, o lema passou a ser a Escola Inclusiva. As crianças passaram a ser educadas no sistema regular de ensino e com uma pedagogia que se deveria centrar em todo o seu processo educativo. É a escola que se deve ajustar a todas as crianças independentemente das suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras. O desenvolvimento de qualquer criança deverá ser sempre feito num contexto natural e não em ambientes especialmente criados, já que estes podem condicionar ou mesmo inibir o desenvolvimento normal.
Este projecto foi ainda pensado na linha de Lou Brown quando este disse: “todo o trabalho com deficientes mentais deve ser feito no contexto das suas actividades diárias: vida em casa, vida na comunidade, ocupação e recreação” e “à medida que o aluno cresce deve-se dedicar-lhe cada vez menos tempo na escola e mais nos ambientes pós escolares nos quais deverá envolver-se”.

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