sexta-feira, 15 de abril de 2011

De 1999 a 2004 – mergulhando numa outra fase da vida profissional

No dia 13 de Outubro de 1999 fiz a defesa do meu trabalho de mestrado e pude finalmente respirar de alívio. Acabou de vez o mestrado que durou três longos anos na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade do Porto. Foram três anos anormais, de trabalho constante e não sobrando tempo para quase nada. A minha vida era praticamente escola, faculdade e casa. Chegava a casa e tinha sempre mais qualquer coisa para fazer. Foram muito raros os dias que cheguei a casa e pude relaxar. A pesquisa, a tese, os projectos de intervenção educativa e as aulas não acabavam nas horas normais de trabalho. Íam para casa e para a cama comigo, às vezes apareciam nos sonhos e reapareciam sempre no dia seguinte.
Mas valeu a pena. Do ponto de vista educativo, o crescimento foi muito grande. No mestrado passei a ler artigos de forma crítica, a definir e a redefinir objectivos da pesquisa, a escolher a melhor metodologia e a analisar os resultados. Do ponto de vista profissional, o contacto com profissionais qualificados, e de certa forma, estar entre eles, trouxe importantes consequências para a minha vida pois proporcionou-me, entre outros aspectos positivos, a oportunidade de melhorar a qualidade do trabalho a vários níveis, nomeadamente, na minha actividade docente que desenvolvia, nessa época, em regime de acumulação, numa instituição privada de ensino superior como responsável pela formação de professores do 1º, 2º e 3º ciclos.
Concluída esta fase, quis ter um tempo para mim e para a família mas quis também aplicar com os meus alunos e até com os colegas de profissão alguns dos meus novos conhecimentos.
No entanto o ser humano não é simplesmente um corpo físico que funciona como uma máquina, dependente de reacções químicas. Somos mais que isso! Possuímos uma “energia vital” mais subtil que não tem origem apenas do metabolismo dos alimentos. Para além do corpo físico temos emoções e sentimentos que fazem parte de um todo em cada um de nós. Reagimos ao mundo que nos rodeia de diversas formas, algumas positivas e outras  negativas.
Tudo isto para dizer que em termos profissionais, e mais para o fim deste período, mais concretamente em Março de 2004, tive a necessidade de decidir se devia continuar a trabalhar no ensino especial ou então se deveria regressar definitivamente ao ensino regular.
Com as novas regras os professores de educação especial que davam apoio a alunos com necessidades educativas especiais de carácter prolongado deixaram de ser destacados anualmente, para concorrerem a um grupo de docência próprio, criado para o ensino especial.
Para o efeito foram criados três subgrupos de docência, tendo em conta as necessidades educativas dos alunos aos quais se destinam, e passaram a ser designados por Educação Especial 1, 2 e 3.
Educação Especial 1 (E1) - Apoio a crianças e jovens com graves problemas cognitivos, com graves problemas motores, com graves perturbações da personalidade ou da conduta, com multideficiência e para o apoio em intervenção precoce na infância;
Educação Especial 2 (E2) - Apoio a crianças e jovens com surdez moderada, severa ou profunda, com graves problemas de comunicação, linguagem ou fala;
Educação Especial 3 (E3) - Apoio educativo a crianças e jovens com cegueira ou baixa visão.
Com esta nova realidade tive necessariamente de tomar algumas opções importantes e definitivas. Mas as dúvidas eram mais que muitas. Devia ou não concorrer a este novo quadro, sabendo que perderia para sempre o meu grupo de origem?
Se optasse por não concorrer teria que ir para a escola secundária Joaquim de Araújo, em Penafiel, onde estava colocado como professor do quadro de nomeação definitiva do agora denominado grupo de Ciências Agro-Pecuárias.
Havia vários contras se tomasse esta opção. A deslocação diária de cerca de cem quilómetros de Valadares para Penafiel com ida e volta; o retomar a actividade docente num grupo disciplinar que deixara de leccionar há doze anos, com as naturais dificuldades pedagógicas que isso me traria e, sobretudo, a perda de todo o investimento pessoal e profissional feito ao longo de mais de uma década na educação especial eram razões mais do que suficientes para me fazer vacilar.
Por sua vez, o Ministério da Educação pretendia (ou dizia que pretendia), com a criação do quadro de ensino especial, estabilizar os docentes nas escolas, evitando milhares de destacamentos anuais, que colocavam em causa a continuidade do trabalho desenvolvido com os alunos com necessidades educativas especiais.
Argumentava ainda (justificando esta medida) que, deste modo, os docentes de educação especial iriam ser colocados em vagas próprias, nos quadros da escola sede de agrupamento, libertando, desta forma, as vagas que ocupavam nos quadros de escola, que eram recuperadas para concurso e que a criação de um grupo próprio para a educação especial iria possibilitar um maior número de vagas de quadros de escola, em vários anos, permitindo que estas fossem preenchidas por outros docentes.
Por outro lado justificava que a colocação em vagas próprias, por agrupamentos, contribuiria para uma melhor gestão dos recursos humanos pelas escolas. Assim, seriam os agrupamentos que iriam gerir a distribuição do serviço lectivo a estes docentes, consoante as necessidades educativas dos alunos que frequentam os diversos estabelecimentos de ensino.
Acabei por decidir concorrer a este novo quadro e, atendendo à minha graduação profissional e académica, fiquei na escola que quis, a EB 2/3 de Valadares, onde trabalhava, em regime de destacamento, desde o ano lectivo de 1995/96.
Esta opção viria no futuro a ser por mim considerada desastrosa. Fiquei completamente defraudado pelas expectativas que criei tendo em conta a retórica dos governantes da época. A prática viria a demonstrar que foi, para mim e para muitos docentes, um desastre completo. Desde logo porque a colocação de docentes, nos quadros de educação especial, foi feita sem descriminar a sua formação profissional (pré-escolar, 1º ciclo, 2º, 3º e Secundário).
Por outro lado constatou-se que ouve um corte indiscriminado no número de professores a leccionar no ensino especial, superior a 70% em algumas regiões do País, o que, de facto, veio traduzir-se na ausência de respostas adequadas para milhares de alunos com necessidades educativas especiais.
Muitos professores especializados optaram pelo ensino regular e muitos dos que vieram ocupar essas vagas não tinham habilitação ou formação especializada para o efeito. Muitos deles nem sequer tinham qualquer tipo de experiência. Enfim, no ano em que foi criado um quadro de Educação Especial, assistiu-se ao regresso dos piores métodos de selecção e recrutamento de docentes: o recurso ao convite!
O Ministério da Educação, não assumindo os erros do mau levantamento das necessidades reais das escolas e confrontado com alunos com necessidades educativas especiais sem apoio, optou por obrigar professores sem qualquer formação especializada ou experiência em Educação Especial, a trabalhar com estes alunos.

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