quinta-feira, 28 de abril de 2011

Período conturbado e perturbador - 2006-2010

Durante este período (2006/2010), assistimos estupefactos a grandes transformações na vida da escola, dos alunos e dos professores.
O governo decretou, decretou e ... decretou. Foram implementadas medidas que viriam a prejudicar gravemente os professores e as suas famílias para o resto das suas vidas. Procurou legitimar essas medidas através da calúnia e da humilhação pública dos professores, passando a imagem, através da Ministra da Educação e seus secretários de estado de que os professores faltavam muito e de que trabalhavam pouco.
Esse governo esqueceu-se que os professores constituem uma classe profissional chave e que constituem um vasto grupo transversal à sociedade portuguesa, pois é rara a família que não tem professores. Ao humilhar e prejudicar os professores, esse governo, insultou e espoliou directamente grande parte da população portuguesa. O ressentimento dos professores para com esse governo tornou-se uma realidade insanável.

Neste contexto, e logo no início do ano lectivo de 2006/2007, fui confrontado, tal como todos os outros professores, com um quadro muito negativo relativo a aspectos organizacionais das escolas. O despacho 13.599/2006, à margem das regras consagradas na legislação em vigor, designadamente do Estatuto da Carreira Docente ainda em vigor, veio impor normas de organização dos horários dos docentes nomeadamente nas ditas aulas de substituição e o prolongamento com actividades não lectivas na escola.
Foi, de facto, entre todas as novidades com que os professores se confrontaram uma das que mais polémica gerou e deixou a maioria da classe docente à beira de um ataque de nervos. Com o decorrer do tempo ficou absolutamente comprovado de que a sua implementação em nada contribuiu para a melhoria da qualidade do ensino. Não foram só os professores a mostrar a sua insatisfação pois esse desagrado alargou-se aos pais e aos próprios alunos. Só os legisladores tecnocratas do Ministério da Educação tardavam em reconhecer o erro que tinham cometido. Um dos Secretários de Estado da altura, mentindo descaradamente, veio a público dizer que estas aulas estavam a correr bem e que os professores já se haviam habituado a elas, querendo, com isso, passar a mensagem de que não havia qualquer tipo de contestação e que tudo decorria dentro da maior das noemalidades.
Sobre este assunto, alguns dos episódios que se iam relatando por todo o País eram absolutamente anedóticos e atentatórios da dignidade dos professores. 

Numa quinta-feira, no intervalo grande da manhã, formava-se na sala de professores uma pequena fila para tirarem o café da máquina aí colocada.
Dizia, desabafando, uma das professoras mais antigas da escola para uma colega que a antecedia na fila:
-Estou farta disto! Logo que possa ir para a reforma nem sequer olho para trás! Logo eu que sempre gostei da minha profissão.
-Não me digas que tiveste uma aula de substituição!? Perguntou admirada a colega.
-Claro. Os alunos contestam o sentido destas aulas. Eu, por muito que me esforce e tente promover actividades que lhes desenvolvam algumas competências ... eles não aderem, não estão para aí virados. E como sabem que não os avalio, não me ligam nenhuma.
Uma terceira professora intrometendo-se na conversa disse: - Olha que no ensino secundário ainda é pior! A obrigatoriedade destas aulas elimina a vontade própria de cada aluno quando este se sente autónomo para gerir o seu tempo de forma mais proveitosa!
-Sim, estas aulas só fariam algum sentido se houvesse uma boa coordenação em função das dificuldades sentidas pelos alunos a certas disciplinas! Disse ainda uma outra professora.
-O ensino merece mais respeito! Não vamos “tapar o sol com uma peneira”. É necessário inovar, investir! Entretê-los de qualquer forma não é solução, notem que os alunos do secundário já não são crianças. Precisam de espaço para se prepararem para o futuro!... Desabafou a primeira das professoras.
-Sim … e esse futuro só depende deles e não das aulas de substituição! Retorquiu outra.

Esta conversa, saída assim de improviso, espelhava bem o pensar e o sentir da grande maioria dos professores e dos alunos relativamente às famigeradas aulas de substituição.

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