terça-feira, 1 de março de 2011

A problemática do comportamento e educação sexual dos jovens com deficiência


 “A sexualidade é igual para todos"

"Cabe à família e à escola valorizar essa questão, orientar e informar o jovem com deficiência".

Poderia resumir nestas duas simples frases grande parte daquilo que penso sobre esta problemática.
No entanto não posso, nem quero, ficar apenas por aqui já que este é um dos aspectos mais relevantes com que fui confrontado ao longo de toda a minha vida profissional.
Apesar do debate sobre a educação sexual obrigatória nas escolas ter, em Portugal, perto de 40 anos, só em Fevereiro de 2006 o Ministério da Educação entendeu que a educação sexual devia ser obrigatória nas escolas do ensino básico. A progressão da SIDA e de outras doenças sexualmente transmissíveis, o alarmante nível de gravidez adolescente e, porque não, a entrada na escola regular de alunos com deficiência mental, com todos os mitos que existem sobre a sua sexualidade, estarão na origem imediata da aparente “urgência” das discussões à volta desta problemática.
Por outro lado, fui ao longo dos tempos dando conta das limitações da escola e das dificuldades das famílias, dos professores, dos auxiliares de acção educativa enfim, de toda a comunidade para lidar com este problema.
Sobretudo o modo como os jovens a vivem e o modo como a sociedade a vê.
É fácil compreender que a vida afectivo-sexual de adolescentes e jovens com deficiência era nessa época e – ainda é hoje - um tema delicado, recheado muito mais por preconceitos do que por questões técnicas.
Manter o tema em sigilo julgo que é contribuir para que esses preconceitos continuem e que o direito à sua própria sexualidade seja negado a estes jovens.
Creio mesmo que se torna imperativo os meios de comunicação, em especial aqueles programas mais voltados para o público jovem, deveriam ajudar a desfazer alguns dos mitos e mostrar os aspectos positivos da experiência de vida das pessoas com deficiência, fundamentando-se mais nas suas capacidades e competências, em vez de enfocar apenas as suas limitações.
No entanto isso não se verifica porventura porque este tema não dá audiências e todos os canais de televisão (mesmo os canais públicos) estão muito mais interessados no shaere do que no bem público que seria prestado com programas culturais sobre esta temática.
Por sua vez na escola o tema tem que ser encarado de frente e ser incluído no programa educativo de cada um desses jovens. Se estes não puderem vivenciar a sua sexualidade de forma tranquila e segura, certamente correrão mais riscos.
A omissão do tema em casa, na escola e mesmo no consultório médico tem gerado desinformação e preconceito. Muita gente prefere acreditar, por exemplo, que eles não são capazes de compreender os cuidados necessários para o sexo seguro. Por isso, o tema não deve ser tratado apenas nas entrelinhas. É preciso fornecer informações claras e precisas para que sejam assimiladas.
Quanto mais se esconde uma coisa, mais se permite a fantasia.
O desejo e as descobertas da sexualidade são sinais de saúde. Mas quando o adolescente com deficiência começa a sair, a conhecer pessoas e a procurar uma vida sexual activa, a família normalmente perde o controlo sobre suas actividades e nasce o medo de que ele seja rejeitado ou até mesmo que venha a ser abusado sexualmente. Em consequência, com o intuito de proteger os filhos, os pais costumam tratá-los como eternas crianças, negando assim o seu direito à sexualidade.
Este, mais que um problema técnico, é um problema ético, de valores e cultural. Hoje em dia, e no plano teórico, quase todos estarão de acordo que é um direito das pessoas com deficiência a vivência desta dimensão da vida, mas quanto passamos para a prática é que se colocam as questões e aparecem os entraves e as dificuldades.
Há, em minha opinião, muito trabalho ainda a fazer e com abertura, flexibilidade e tolerância, devemos todos apoiar as pessoas a poder exprimir a sua sexualidade, e as famílias a lidar com estas questões.
É necessário também o desenvolvimento de competências sociais, apoiando os jovens na identificação de situações de risco, bem como treiná-los e apoiá-los a descriminar entre o que é público e privado e – urgentemente - apoiar o trabalho com pais e promover a autonomia, porque “educar é ajudar alguém a tomar conta de si próprio”.

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